sexta-feira, 4 de março de 2011

Sobre Biguás e Revoadas

Há duas semanas estava no Rio Guaporé. Descíamos rumo a um povoado boliviano para, para levar até lá, um pouco de menos dor, um pouco mais de paz, um que de nós sobre esperança, uma fatia a mais de Jesus Cristo como aquele remédio que não tem preço, sem anestesias, sem se sofrer a falta de estoque dele...
O barco ia e dois fatores me chamaram a atenção. Ambos se referem a um pássaro: o Biguá. Há uma lenda indígena que diz ser o Biguá a alma de um amante que perdeu sua amada porque ela lhe foi roubada e levada para uma terra nunca encontrada. Por isso, todas as vezes que se vê um Biguá sobrevoando o rio, é ele, o amante roubado, procurando pela amada. O biguá é uma alma condenada a ser procurante eterno.
Então, a primeira coisa que me fez pensar foi quando o dia nasceu, riscando o céu de laranja e lilás. A bíblia diz que Deus fez sair as fontes nos vales, as quais correm entre os montes. Ali era assim. O sol faz dormir as crias da noite, porém, faz revoar os biguás. Centenas ou milhares deles, numa aparente e desorganizada algazarra. Rápidos, gritantes. Lembrei que assim é alma humana. Como o Biguá, está condenada à caça de seu bem maior: Deus! Como na história do amante, está perdendo sua fonte de cura e sai todas as manhãs numa busca frenética por amor e paz. Para muitos, a cena parece ser eterna. Procurarão, verão o dia seguir o seu curso, e nada acharão.
Então, veio a segunda coisa que me fez pensar. A bíblia diz que o sol nasce e logo se recolhe, pois conhece o seu ocaso. O homem trabalhou o dia todo e quando caiu a noite, procurou o descanso. Eu vi a revoada do Biguá no pôr do sol. Outra vez eram centenas ou milhares. O céu estava de novo riscado de laranja, salpicado de um vermelho que mais parecia rosa e o sol era preguiçoso, como se pudesse parar aquele instante inigualável. E eu vi a diferença do vôo do fim do dia. Havia paz, o frenesi e a desorganização da procura haviam passado. E o coração humano também é assim. É preciso parar, é preciso encontrar. Talvez o biguá, em sua eterna procura, não tenha visto o que Jesus diz: “Quem tem sede venha a mim e beba”!
Poucas vezes, duas coisas tão simples, me deixaram ver o coração humano de forma tão plena como vi naquele dia. É que um está procurando e o outro tem as fontes da água da vida!

Colorado do Oeste, 10 de Setembro de 2008.

Por Eliel Eugênio de Morais

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